Uma coisa que alguns usuários estranham quando começam a ler ebooks, principalmente formatos como MOBI e EPUB, é a questão da contagem de páginas. Nós estamos acostumados com os livros de papel e criamos o hábito de usar o número das páginas como referências para várias coisas: o ponto onde paramos a leitura, o tamanho do livro (quantas páginas ele tem), o local onde está aquele trecho que chamou a atenção, etc. Então vamos entender neste artigo como funciona a contagem de páginas nos ebooks e também a referência a conteúdos, incluindo no Kindle.
Faz sentido contar páginas nos ebooks?
Os formatos típicos de ebooks, como o MOBI e o EPUB, permitem que você ajuste a fonte durante a leitura. Alguns permitem também outros ajustes como no espaçamento entre as linhas e largura das margens. Além disso, eles também permitem adaptar o texto ao e-reader que você usa, que possuem tamanhos de telas diferentes. Esses são os principais fatores que fazem com que uma página de um ebook varie muito dependendo destas circunstâncias e configurações.
Para ilustrar esta questão, veja as imagens abaixo que mostram a primeira página do primeiro capítulo do ebook Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, no aplicativo Kindle no iPhone, no iPad, e no Kindle:

Página no Kindle para iPhone

Página no Kindle para iPad

Página no Kindle Keyboard 3G
Note a quantidade de parágrafos e o ponto onde termina cada página. Isso mostra que falar em “páginas” nos ebooks torna-se inútil, já que as páginas variam tanto. E se você passar algumas páginas do texto, verá que rapidamente elas conterão um conteúdo completamente diferente em cada e-reader.
Como referenciar o conteúdo dos ebooks?
Se você colocar um marcador numa página de um ebook, você verá que em todos os e-readers que abrir aquele ebook, a “página” começará no mesmo ponto, pois a marcação está referenciado o trecho do texto ou o parágrafo onde você colocou o marcador. Isso sim é uma referência absoluta, ao contrário das páginas que podem variar.
Quanto ao progresso da leitura, a maior parte dos e-readers (como o Kindle e o Kobo) usam a porcentagem em relação ao total. Por exemplo, se você já leu metade do livro, verá que a barra de progresso estará indicando um valor próximo de 50%. Não importa quantas “páginas” você leu, pois como vimos anteriormente isso pode variar muito, mas a porcentagem é absoluta. Para chegar a 50%, você leu a mesma quantidade de texto não importa as configurações ou o e-reader que você usa.
Como funciona no Kindle?
O Kindle usa duas formas de referenciar posições no texto: pelo progresso e pela posição (em inglês location).
O progresso é indicado como uma porcentagem do total a ser lido, como é comum no mundo dos ebooks, como eu expliquei no tópico anterior. Você verá o progresso na barra no rodapé da tela.
Para localizar trechos específicos, ele usa a posição, que você já deve ter visto em menus e na tela principal do Kindle. Eu encontrei pesquisando em alguns sites que cada posição representa um grupo de 128 bytes de dados. Falando em linguagem mais humanamente compreensível, em caso de textos sem acentos nem formatação, seria o equivalente a 128 letras. Mas por causa da formatação e outras informações que não aparecem na leitura, isso pode variar em termos de quantidade de texto visível que ele representa.
A posição não varia de um e-reader para o outro, pois ela está amarrada ao texto do ebook, e torna-se assim um referencial absoluto. Por exemplo, se você for para a posição 423 de um ebook no Kindle, você irá para o mesmo ponto do texto não importa se você está usando o aplicativo Kindle num tablet, smartphone ou no computador, ou se você está usando o Kindle físico. Não precisa ser um ebook comprado na Amazon, pode ser um arquivo pessoal, mas tem que ser o mesmo arquivo (mesmo conteúdo).
Para encontrar a posição de um determinado trecho do texto, é só olhar para o rodapé que você verá a posição na barra de progresso. Lembrando que no Kindle você verá a barra de progresso mesmo sem chamar o menu, mas para ver a posição você precisará chamar o menu. Não precisa selecionar nada, apenas chamando o menu fará a posição aparecer na barra de progresso.
Para ir para uma posição no Kindle basta chamar o menu, e selecionar opção Ir para… (ou Go to…). No aplicativo Kindle, basta clicar no ícone com um livro aberto, e clicar depois na opção Posição. Então digite a posição desejada.
E como fazer com livros impressos e ebooks?
Eu já percebi em fóruns que muita gente não gosta da ideia de usar a posição (no caso do Kindle) por estar acostumado com páginas. Mas devemos lembrar que a contagem de páginas pode variar também nos livros impressos. Algumas vezes, basta mudar a edição, e você verá que as páginas não batem mais.
Eu tinha um livro de programação que eram duas edições anteriores ao que um amigo tinha, e as páginas não batiam. Nós então nos acostumamos a trocar referências usando o título e o número dos tópicos (por exemplo, “estou com dúvidas no exercício 11.5”).
Isso também pode ser feito entre livros impressos e ebooks. É só pensar no ebook como uma edição diferente do livro impresso. Você pode referenciar os títulos e números dos capítulos, tópicos, etc.
O Kindle usa páginas nos ebooks?
Em relação ao uso de páginas nos ebooks, essa contagem pode ser aplicada quando alguém pega o livro impresso e mapeia o conteúdo de cada página para o ebook. Ou seja, não importa qual seja o e-reader, você terá de alguma forma um indicador de quando termina uma página e começa outra, com relação ao livro impresso. Por exemplo, você pode ter virado de página dez vezes no ebook, mas estar na página 7 do livro impresso.
Esse é um recurso que a Amazon está colocando em alguns ebooks para Kindle. Para saber se um ebook possui este mapeamento de páginas em relação ao livro impresso, procure por esta identificação na descrição do ebook:
Note que no comentário a Amazon identifica o ISBN do livro impresso que foi usado como referência, pois como eu mencionei, a paginação também varia entre os livros impressos.
No aplicativo Kindle, ao abrir um ebook que ofereça este mapeamento de páginas, é mostrado no rodapé, além da indicação da posição, o número da página que estou lendo:

Ebook com contagem de páginas
Eu fiz um teste no Kindle no meu iPhone, e notei que eu preciso passar para a próxima página quatro vezes para que o número da página mude. Ou seja, por causa do pequeno tamanho da tela e da configuração de fonte que eu uso, uma página do livro impresso acaba sendo dividida em cerca de quatro “páginas” no Kindle no meu iPhone.
Se eu quiser ir para uma página específica, clique no mesmo ícone de um livro aberto, e no menu você verá uma opção a mais, que só aparece para os ebooks que tem esta funcionalidade, que é a de ir para uma página específica:
Infelizmente, o meu Kindle Keyboard 3G não suporta esta funcionalidade. Nele eu não vejo a indicação dos números de páginas e nem opção no menu para navegar por páginas.
Como funcionam os arquivos PDF
Eu expliquei que toda essa questão de paginação variável se aplica a formatos “tradicionais” de ebooks, como o EPUB e o MOBI.
Embora seja um formato muito popular, o PDF não é um formato tradicional de ebook, no sentido em que ele é mais uma versão digital do conteúdo impresso. Ele na verdade reproduz visualmente um livro impresso, página a página.
Você já deve ter percebido que você não consegue mudar a fonte em um arquivo PDF (a não ser aplicativos que reconheçam o texto, extraiam-no e tratem-no separadamente). Por isso, o arquivo PDF consegue se manter fiel à páginação, já que as páginas não mudam. Por outro lado, a leitura é mais limitada em relação aos recursos que um e-reader oferece.
Concluindo
O leitor, ao começar a ler ebooks, vai se acostumar com essa nova prática de passar a usar a porcentagem para acompanhar o progresso da leitura, ou as próprias ferramentas do e-reader para marcar trechos ou locais de destaque. Pode parecer um pouco estranho no começo, mas você irá se acostumar.
Se você quiser compartilhar alguma experiência que teve dentro deste assunto, ou tiver alguma dúvida, faça seu comentário abaixo.
Como eu faço para fazer notas de rodapé do tipo: nome do livro, edição, local, editora, ano, página?
Como eu faço para fazer uma nota de rodapé do tipo: nome do livro, edição, local, editora, ano, página?
Olá Cris, Saudações.
Em primeiro lugar gostaria de lhe parabenizar pelo excelente blog que esclarece diversas dúvidas sobre o mundo digital, que está cada vez mais ocupando espaço em nossas vidas, principalmente para iniciantes nessa seara como eu.
Em segundo lugar gostaria de tirar uma dúvida parecida com a de Douglas, Helena e Felipe, pois estou atualmente utilizando diversos livros em E-pub e PDF para elaborar meu TCC (monografia) e fiquei com uma incógnita sobre a citação desses livros digitais tanto na REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA, quanto em CITAÇÕES dos referidos livros dentro de parágrafos em meu texto! Li alguns comentários seus abaixo de dúvidas parecidas com essa, porém ainda permaneceu algumas dúvidas. No caso de REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA, pelo que entendi, é só adicionar o nome “E-pub” após o nome do autor ou no final após o ano de publicação do livro digital??? Nesse exemplo:[LENZA, Pedro (Org.). Direito processual penal esquematizado. 5. Ed. São Paulo: Saraiva, 2016. E-Book] ou [LENZA, Pedro (Org.). E-Book. Direito processual penal esquematizado. 5. Ed. São Paulo: Saraiva, 2016].
Já no caso da CITAÇÃO em meio a parágrafos do meu texto não preciso colocar número de página (por causa do lógica diferente dos E-pub’s)??? então só ficaria o sobrenome do autor em caixa alta mais o ano de publicação, no caso de citação direta??? nesse exemplo: (FOUCAULT, 1999)
Desde já agradeço a sua atenção e boa vontade!!
Olá, Elton! Sei que a pergunta foi direcionada à Cris, mas peço licença para compartilhar algumas informações.
Neste primeiro Semestre de 2016, fiz uma monografia e tive esses mesmos impasses. Tomei duas atitudes: 1ª) Mandei e-mail para a própria ABNT expondo a situação e dando algumas sugestões; 2ª) Conversei com o professor orientador. Seguem os resultados:
– ABNT: Mandei e-mail e questionei se fariam alguma revisão nas normas, se incluiriam as “posições” no lugar de páginas (caso do Kindle), sugeri nomenclaturas etc. A respostas foi esta:
“[…] Gostaria de informar que a Comissão de Estudo de Identificação e Descrição (CE-14:000.03), responsável pela análise e revisão da ABNT NBR 10520, já se deparou com este problema. No momento, estamos pesquisando as formas de apresentação dos e-books (nem todos tem posição), para determinar uma regra para este item. Com certeza, iremos incluir este tipo de publicação e como padronizar uma citação desta fonte.
Enquanto isso, recomendamos apenas a indicação do autor/data e, na referência, a indicação que é um E-book […]”.
– PROFESSOR: Conversei com o meu professor, mostrei os e-mails trocados com a ABNT e fiz a exposição de como eu pretendia fazer as referências e como iria indicar as “páginas”. Felizmente, ele foi receptivo e deixou utilizar, ponto positivo, pois a versão Kindle do livro foi bem mais barata e o acesso é imediato (no impresso eu perderia muito tempo esperando a entrega). Ficou assim:
Ao longo do trabalho, optei por utilizar citações apenas em Notas de Rodapé. Exemplo (repare que está “Pos.” no lugar de “p.”):
” ¹SARLET, Ingo. Wolfgang. Dignidade (da pessoa) humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988 [recurso eletrônico]. 10. ed. rev. atual. e ampl. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015. Pos. 1020 e 1674. A junção entre o substantivo pessoa e o adjetivo humana pode soar redundante. Ingo Wolfgang Sarlet alerta: “Vinculada a esta ideia, que […] já transparecia no pensamento kantiano, encontra-se a concepção de que a dignidade constitui atributo da pessoa humana individualmente considerada, e não de um ser ideal ou abstrato, razão pela qual não se deverá confundir as noções de dignidade da pessoa e de dignidade humana, quando esta for referida à humanidade como um todo”. Em nota, o autor acrescenta: “Neste sentido, v. o magistério de J. Miranda, Manual…, vol. IV, p. 184 (‘a dignidade da pessoa é da pessoa concreta, na sua vida real e quotidiana; não é de um ser ideal e abstrato) ”. ”
Nas Referências Bibliográficas (a pedido do professor, indiquei todas as “páginas” utilizadas):
SARLET, Ingo. Wolfgang. Dignidade (da pessoa) humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988 [recurso eletrônico]. 10. ed. rev. atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015, Pos. 471, 699, 1020 e 1674.
Espero ter ajudado! Boa sorte!
Olá Cris, tudo bem?
Estou com uma dúvida, eu tenho um arquivo de livro criado e formatado em Indesign para impressão e gostaria de transforma-lo em e-book. Eu preciso fazer novamente a diagramação desse material?
Dúvida: é como proceder no caso de citações acadêmicas? Faço mestrado em uma faculdade estrangeira que adota o modelo Turabian (bem diferente da ABNT). Como citar algo, se o consenso acadêmico é que as citações tenham páginas?
Tenho o mesmo problema que você Douglas, tenho um kobo e uso pra ler literatura técnica e se recomenda colocar o numero da pagina de citações (ABNT)…. Aceito sugestões de soluções…
Olá, Douglas!
Já conhecia este ótimo blog, mas cheguei neste post específico pesquisando exatamente sobre a questão das páginas. No semestre passado, fiz uma monografia e me deparei com a questão para fazer uma citação de uma edição digital e grátis de “Do Contrato Social” (Jean-Jacques Rousseau). Ficou assim:
“que nos remete à uma das ideias principais da obra de Jean-Jacques Rousseau ([s.d.], LIVRO I, VIII – Do estado civil)”
E, nas Referências Bibliográficas, assim:
“ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. Tradução Rolando Roque da Silva.
[s.l]: Amazon, [s.d.]”.
Estes “s.l.” e “s.d.” são, respectivamente: sem local e sem data (em relação à edição da tradução).
Como estes livros mais antigos são compostos de capítulos maiores chamados de “LIVROS”, isso facilitou localizar o trecho em questão. E também facilita a questão de ser uma obra antiga com inúmeras versões e traduções. Percebo que, nas obras gregas, os estudiosos que querem se referir à obra original, referenciam os parágrafos “§”.
Mas como parece não existir um critério oficial da ABNT, estou pensando em entrar em contato com eles ou ser “pioneiro” em usar a forma que dispomos, como: “Pos. 535”, por exemplo. Talvez, de forma conjugada com a porcentagem: “3%, Pos. 535”.
Para mim, a situação piora um pouco porque faço o mestrado fora do país e não usamos ABNT, mas o modelo Turabian (aquele das notas de rodapé).
Também com a mesma dúvida.
Pois é, eu também! Na leitura por lazer, tanto faz página ou posição. Mas e quando a gente quer citar um trecho em um trabalho acadêmico, por exemplo, e não tem como colocar a referência bibliográfica com a página de onde a gente o retirou?